quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Hipermetrope


Quando eu era criança me fizeram acreditar que era estulta, fui ganhando conhecimento e junto dele uma vontade enlouquecedora de mostrar a todos que eles estavam errados, que eu era dotada de sabedoria. Porém fui vencida pelo cansaço, pela incerteza e falta de segurança. Fui travada por ter ouvidos e ouvir os sussurros conspiratórios, contra meu conhecimento, mas dessa vez encarei de maneira diferente, talvez da pior, encarei como uma verdade absoluta e abaixei a cabeça a quem me colocava embaixo do solo e depois da lixeira.
Percebi que, na verdade, não sou quem eu pensava. Não tenho nenhum dom natural e nenhuma facilidade, sou apenas mais uma no colégio, em casa, na rua, nos grupos que freqüento e apenas mais... uma! Não tenho nenhum diferencial, nunca vou ser quem sonhei.
Parece-me discurso de um derrotado, mas é isso que o mundo faz das pessoas. E não, culpar os outros, o mundo pelo meu desgaste não é do meu feitio, pois só estou assim, porque me permiti estar. Mas que esse mero depoimento faça as pessoas não destruírem ninguém, não destrua sonhos, nunca falem que os outros não são capazes, não duvidem, não, não, não...
Se bem que... Pensando bem, o Cara mais genial foi humilhado e muitos o ridicularizaram e mesmo assim Ele é o maior Homem de todos os tempos. Será que Ele se rendeu como estou me rendendo? Porque aposto que não foi fácil pra Cristo...
Acabo de me sentir hipermetrope, que mania de enxergar mal o que está na frente dos olhos!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O que você quer?


           Sonho, desde meus dez anos em ser médica, inspirada por meu pai, que é um médico reconhecido e com uma vida, digamos que admirável. Ele possui certificados e diplomas que fazem desaparecer a cor acinzentada da parede de seu escritório.
Sempre fui muito determinada. O ato de ser médica me fascina, puramente por salvar vidas e ver a alegria, depois de horas de apreensão, nas faces dos familiares ao dizer que o paciente está bem. Ou pelo lado contrário, dizer-lhes o pior, mas eu saberia que fiz tudo o que estava ao meu alcance.
Destacava-me por minha obstinação e professores do Ensino Médio sempre deram muita atenção a mim, já que tinha o objetivo de passar no curso mais concorrido e isso acarretaria em uma boa fama para o colégio.
Estudava demasiadamente, tudo isto por um sonho. Mas em pleno início do meu último ano letivo do Ensino Médio, ocorre-me algo inesperado, que mexeu com as estruturas de minha família: um câncer dominava meu ser.
Fui obrigada a largar o colégio e toda a minha vida social para me tratar. Meu pai não era especialista nessa área, não podendo me ajudar. Passei por muitos médicos, até diagnosticarem exatamente o que eu tinha.
Minha trajetória de hospital a hospital foi deprimente: uma corrida contra o tempo. Era como se meus dias de vida estivessem contados e eu não poderia perder nenhuma oportunidade de me curar.
Encontrei vários médicos, e apesar de me instalar nos melhores hospitais encontrei especialistas com cara amarrada e que não estão nem ai para seus pacientes. E alguns deles, simplesmente me disseram para desistir, pois não tinha mais solução. Revoltei-me e perguntei a um deles:
- Escute-me, o que fazes ai que não estás fazendo de tudo para me salvar? Não escolhestes essa profissão?
Ele, quase que me ignorando respondeu:
- Escolhi ser médico para ter uma boa vida financeira e dar aos meus filhos uma vida estável. É somente por isso que estou aqui.
Com isso, aquietei-me. Depois de muita procura, consigo me curar, graças a um médico que, assim como eu, sonhava desde pequeno em ser médico para salvar as pessoas que mais queria viver.
Retornei, no ano seguinte ao meu terceiro ano, vou estudar por todos esses que correm por hospitais em busca de um tratamento.
Ouço muitos reclamarem dos governos que não cuidam da saúde. Será mesmo que a culpa é deles? Ou será que por essa busca desenfreada por dinheiro e poder as pessoas se submetem a trabalhar em cargos que não gostam?
            Você quer salvar ou matar uma vida?